Que fazer quando os
gritos não escorrem pelo vento
E as palavras submergem
na indiferença do papel?
Que
fazer quando as pedras da calçada não trepam ao cimo das mãos
E os cartazes desaprendem
a cantar?
Que fazer quando o
futuro se esconde detrás da noite
E às crianças apreendem
os lápis de cor com que pintam seus sonhos?
Que fazer quando partem
os vidros das janelas da dignidade
E as auroras deixam de
tanger os seus sinos?
Que fazer quando proíbem
as árvores de dar fruto
E tencionam emparedar o
sol?
Que fazer quando a
esperança recusa uma flor
E decretam ilegal ouvir
um pássaro cantar?
Que fazer quando ao
inverno sucedem estações brumosas de incertezas?
Que fazer quando o povo
advém uma apática, submissa e vergada estátua de carne?
Que fazer quando o
silêncio é o espelho da nossa indignação?
Que fazer quando o
choro é uma pungente canção que alaga incessantemente os nossos olhos?
Que fazer quando o chão
das nossas ruas carcome as solas da nossa coragem?
Que fazer quando nos
estendais das nossas vivências apenas estendemos lençóis de desânimo?
Que fazer quando a
nossa felicidade é uma hipoteca na mão de inexoráveis e irremediáveis usurários?
Que fazer quando a uma
sucessão de fulcrais questões a mesmíssima resposta nos basta?
Que fazer quando a
cúpula do nosso quotidiano se deteriora defronte da penumbra do nosso desleixo?
Que fazer quando a água
das nossas fontes tem um travo de secura?
Que fazer quando os relógios têm percursos
meândricos?
Que fazer
quando o acordar é uma gélida mão a espremer-nos o coração?
Que fazer quando a
nossa opinião é uma casa às escuras?
Que fazer quando o
nosso sono somente suscita insónias ou pesadelos?
Que fazer quando o
nosso alento é uma moribunda sombra de lama?
Que fazer quando já não
sabemos o que havemos de fazer?
Que fazer quando tudo
aquilo que fizemos está a desfazer-se?
Que fazer quando todos
os nossos caminhos vão ter ao país de onde queremos fugir?
dinismoura
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