(A Filomena de Jesus, minha avó)
A noite percorrendo o seu vasto,
esplêndido e milenar itinerário,
liturgia exuberante do cosmos, e a minha avó,
no interior da sua pequenina casa, deitada na sua pequena
cama,
segurando nas mãos um confidente, aficionado e puído terço,
reza devotamente a Deus e pede-lhe por todos os seus.
Com as suas pequenas mãos, duas pequenas rosas, santas,
a minha avó, clareira de fé, pega no terço com a mesma
ternura
com que tantas vezes ao colo pegou as filhas, os netos e as
vidas deles,
e roga, reza, celebra caminhos inexplicáveis, insondáveis.
Beija o crucifixo. O céu benze-se, ajoelha-se. Acendidas, as
palavras ascendem.
Minha admiração perante estes actos sagrados.
No interior do seu pequeno quarto, rodeada de uma missa de
silêncios,
a minha avó, comungando uma luz impercetível,
murmureja, como a alma das capelas, pai-nossos, ave-marias,
glórias
e pede a Deus que zele por todos os seus e guarde a alma dos
que já partiram.
Nada pede para si. Nada.
Que grandeza incomensurável.
dinismoura
Belo, muito belo e recheado de alma boa e bons sentires. Beijinho.
ResponderEliminar